domingo, 19 de outubro de 2014

Leandro Augusto Martins: O presidente que, ao fazer o que achava certo, quase acabou com o Vasco !


Vascaínos,
Na história do nosso Club, algumas decisões tomadas pelos nossos mandatários se mostraram um remédio amargo, mas extremamente necessário de acordo com o momento da instituição !
Um desses mandatários foi Leandro Augusto Martins, e suas atitudes, visionárias para a época, se tornaram mais do que um "purgante" e sim, um veneno quase fatal !
Antes de contarmos como foi o seu mandato a frente da nossa instituição, vamos a uma pequena biografia sobre a vida dele: Nascido em 8 de Setembro de 1862 na cidade de Arrancada de Vouga, Portugal, veio para o Brasil ainda menino, tornando-se um industrial de respeito e um reconhecido comerciante, mais especificamente no ramo de móveis e de colchoaria, além de ter exercido a advocacia, sendo considerado um dos expoentes do ramo da arte imobiliária no Rio de Janeiro !
Foi ainda presidente da Associação dos Empregados do Comércio da cidade ( nos anos de 1892 a 1893 ) além de ter feito parte do conselho fiscal do Banco do Rio e dirigente do Real Gabinete Português de Leitura, bem como exerceu cargo de direção na Santa Casa de Misericórdia !
No Vasco, teve atuação destacada ao solucionar um problema grave que o Club apresentava, já que após a primeira dissidência, não somente estávamos com pouquíssimas embarcações ( Lembrando que o primeiro presidente, Francisco Gonçalves, havia levado consigo praticamente tudo que possuíamos, incluindo os barcos, pouco tempo antes ) como a manutenção delas era extremamente complicado, então sua indústria de móveis fornecia tudo que necessitávamos para a continuidade das atividades, além de ter sido um dos responsáveis pelo projeto de troca da iluminação a gás, em substituição aos antigos lampiões ( ou candieiros ) de querosene, atitudes essas que geravam um entusiasmo cada vez maior de pessoas a se associarem ao Vasco ( Chegamos a ter incríveis 71 associados, um número fabuloso para a época ) !
Eleito de forma quase de forma unânime para o período de 1900 a 1901 como presidente, tudo corria da melhor forma possível, até que em uma Assembléia do Vasco ( Datada de 23 de Dezembro de 2009 ) Leandro foi relator da seguinte proposta:

"A atual diretoria seja reduzida aos seguintes cargos: Um presidente, um Secretário, um Tesoureiro e três membros compondo um conselho com função de suprir os diretores em suas faltas e presidir as Assembleias Gerais"


A intenção de Leandro dar uma modelagem mais simples e de mais fácil trabalho,  reduzindo o número de cargos na composição da diretoria e tendo no Vasco, um modelo de gestão semelhante ao que aplicava em seus empreendimentos, vencendo dessa forma o que chamou de "dificuldades invencíveis de debelar", e talvez obtendo êxito, teria usando seus recursos, melhorado sensivelmente a instituição, mas o grande problema é que da mesma forma que suas intenções foram as melhores, suas articulações políticas para isso é que foram as piores, praticamente impondo essas mudanças aos associados !
Sendo assim, de um lado ficou ele, que já havia entrado em choque com os remadores por medidas disciplinares impostas aos mesmos, e o grupo comandado por José Lopes de Freitas ( O Zé da Praia, idealizador da nossa bandeira, um dos fundadores da agremiação e primeiro técnico do nosso remo ).
Leandro chegou a sair vencedor dessa assembléia, mas isso seria somente o começo do problema, na verdade o estopim, pois o grupo derrotado passou a tramar contra a diretoria, obtendo a convocação de uma assembléia extraordinária em 24-02-1901 que, além de ter sido presidida por um delegado de polícia ( Vital de Melo ), simplesmente destituiu o comando do Club, anulou a reunião anterior por massacrantes 90 votos a favor, determinando ainda que a nossa agremiação fosse comandada por 3 integrantes do grupo então vencedor !
Para piorar tudo, o ex mandatário havia desaparecido com documentos do Club, deixando a reunião sem concordar com o resultado daquela votação e sem transferir o poder para essa "junta governativa", atitude essa calcada uma decisão judicial obtida e que gerou uma debandada da então nova oposição no chamado "Conflito de jurisdição", pois essa decisão da justiça balizava quem tinha a posse do material sumido a continuar mandando no Vasco, e com isso, o grupo revoltoso, que já vinha tramando isso nos conluios pré crise, se transferiu para o recém fundado Internacional de Regatas e que viria, com essa reforço de peso, ser campeão estadual de Remo em 1909, sendo que essa agremiação antes do ocorrido, nenhuma força tinha !
Somente em 6 de Abril de 1901 a paz é selada, mas não sem apresentar sequelas: Leandro Martins obteve a presidência novamente, mas se tornou figura apenas decorativa, sumindo da vida do Vasco assim que seu mandato se encerrou, sendo ainda agraciado com o título de Benemérito em 1902, mesmo ano que a Travessa Maia se iluminou a gás, como desejava !
Leandro Augusto Martins nos deixou ( e além da viúva, mais 3 filhos ) no dia 27 de Julho de 1927, dois dias após realizar uma cirurgia na cidade de Berlim, sendo homenageado em vários jornais pela comunidade do comércio do Rio de Janeiro além de ser o primeiro ( o segundo foi Cyro Aranha ) presidente do Vasco homenageado através da nomeação de uma rua no centro com seu nome, mas infelizmente, sendo esquecido pela comunidade vascaína, apesar de ter tido a melhor de todas as intenções e ter sido um visionário !
A sua história é um símbolo de como o Vasco poderia ter deixado de existir em tão pouco tempo de fundação, de o quanto somos fortes apesar dos conflitos e de como nossos adversários se beneficiam de nossa fragilidade, pois a política ( e muitas vezes a politicagem ) permeia a história do Club de Regatas Vasco da Gama desde tempos idos, desde a sua fundação, nos tornando fortes sim ao passar pelas tempestades, mas ao mesmo tempo, nos fazendo imaginar qual seria o limite se esses conflitos jamais tivesse ocorrido !

Saudações Vascaínas !




Fontes:
O Imparcial !
O Paiz !
Vasco da Gama histórico ( José da Silva Rocha ) !

sábado, 27 de setembro de 2014

Francisco Gonçalves do Couto Júnior: O primeiro ( e poderia ter sido o último ) presidente do Vasco !

Vascaínos,
A história do Vasco é marcada por inúmeras glórias, homens que dedicaram suas vidas para que fossemos colossais mas também é pontuada por brigas, conflitos internos e momentos difíceis, sendo que o nosso "biografado" tenha sido talvez a pessoa que mais sintetizou isso ao longo da nossa existência.
Nascido no dia 26 de Novembro, esse brasileiro era o filho mais velho de cinco irmãos ( Os outros eram Antônio, Adolfo, Alfredo e José ), com sua família ligada a comércio e lojas situadas no bairro da Saúde, e tão logo chegou a eles a intenção de se fundar um clube de remo luso brasileiro, abraçaram a ideia com entusiasmo pois entendiam que esse tipo de agremiação era extremamente necessária no cenário da época.
Além de comerciante, Francisco era dono de armazéns situados na Saúde e na rua Voluntários da Pátria, reunindo as condições mais do que perfeitas para assumir um posto de grande responsabilidade na agremiação que surgiria em breve, incluindo ligações com políticos de prestígio da época ( O Conselheiro Municipal Henrique Ladgen era um deles ), mas mais do que recursos financeiros e contatos com pessoas influentes, o futuro primeiro presidente do nosso Vasco possuía algo que viria a ser mais do que importante e sim fundamental para uma instituição que nasceria para o mar e dele retiraria as suas primeiras glórias: Couto Júnior era proprietário de embarcações apropriadas para regatas !
Sendo assim, tendo o nome para o futuro clube e um presidente, às 2-30 da tarde do dia 21-08-1898 e reunidos na sala do prédio da rua da Saúde 293, 72 abnegados fundavam o Club de Regatas Vasco da Gama e elegiam por 52 votos o primeiro presidente do novo Club, o Sr. Francisco Gonçalves do Couto Júnior que entraria definitivamente para a nossa história como primeiro comandante da nova agremiação.
Tudo corria bem, novos sócios aderiam, as embarcações trazidas por Francisco eram de suma importância, para não dizer absolutamente fundamentais para o nosso começo, mas existia um problema, e que se tornou mais do que um problema, se tornou uma verdadeira cisão: O Vasco precisava mudar de sede !
O Club se localizava em um barracão na Ilha das Moças, em condições que se deterioravam cada vez mais ( apesar disso o Vasco seguia crescendo ), principalmente quando chovia pois o solo não era firme e o trânsito dos associados se fazia em cima de tábuas, o que evidentemente não era o melhor dos mundos, então era preciso mudar, e nessa questão que residiu todo o conflito e quase pôs fim ao recém nascido que nem tinha completado 1 ano de idade: Para onde o Vasco deveria ir ?
Em uma coisa os associados concordavam, que era a questão de que se continuássemos na Ilha das Moças não duraríamos muito tempo, mas as concordâncias pararam aí, já que dois grupos, um liderado pelo presidente Francisco, desejava se transferir para a praia de Botafogo, na enseada da raia oficial da União, enquanto o outro grupo era desejoso de que o Vasco se instalasse pela zona do Boqueirão do Passeio, mantendo-se no centro da cidade.
Indicando a sede no antigo Velódromo Guanabarense, defendeu durante os debates o então presidente sua ideia, enquanto o grupo liderado por Lopes de Freitas e Adriano Vieira contra argumentavam que a maioria dos associados trabalhavam no centro ( empregados e funcionários do comércio ) e que uma mudança dessa magnitude ( lembrem-se, estávamos em 1899, o deslocamento era feito por bondes e a ida do centro da cidade à Botafogo era uma verdadeira viagem ) acarretaria uma debandada de associados.
Para a surpresa de todos, e pondo em risco o futuro do Vasco, após ter a sua proposta derrubada por ampla maioria, o então mandatário apresentou a renúncia da diretoria, o que gerou revolta até mesmo de partidários de Couto Júnior ( o futuro presidente Marciano Rosas foi um desses ), e o que seria apenas uma crise, tomou proporções colossais: Francisco se desligaria também do quadro social, levando consigo todo o material doado por ele e seu grupo na fundação da instituição, o que deixou o Vasco praticamente a míngua, restando após a entrega do que pertencia aos "desertores" a Baleeira a quatro remos "Vaidosa", uma mesa, algumas cadeiras, uma barra fixa para ginástica e...fim de papo, nada mais restaria !
Mas essa "traição" não acabaria ali: Não satisfeito em deixar o Vasco na mais absoluta penúria, Couto Júnior ainda fundou, no dia 05-07-1899, o Club de Regatas Guanabara, que viria a ser rival da instituição a qual Francisco presidiu e a qual lhe foi confiado zelo e liderança !
Mas o Vasco é forte, e  naquele momento, em que qualquer outro teria sucumbido, ele permaneceu firme e seguiu seu caminho, mostrando que mesmo essa crise, que poderia ter decretado seu fim, não bastaria para concorrer com isso, e seguimos em frente, lógico, com a tenacidade dos associados que acreditaram que nada poderia nos deter e seguraram o leme daquela jovem caravela em meio a tempestade.
Pensam que a história de Francisco Gonçalves do Couto Júnior no Vasco acaba aqui ?
Pois bem, o Vasco sofreu uma segunda cisão, provocada por uma reforma estatutária, aonde a Assembléia foi presidida por um delegado, e o então vascaíno Álvaro Carneiro ( na ausência do presidente Leandro Martins, desgostoso com os rumos que aquela segunda cisão causava ao Club ) registrou no dia 24-06
do ano de 1900 a  visita do primeiro mandatário, Francisco Gonçalves, que na ocasião manifestou a vontade de retornar ao quadro social, muito provavelmente vendo o momento complicado a qual a instituição vivia e desejoso de retornar aquela casa.
Após concluir o tempo estatutário da administração de Leandro Martins, eis que a assembléia se reúne no dia 13-08-1901 para eleger os mandatários do ano seguinte, ratificando para um novo ciclo o primeiro presidente, o próprio Francisco Gonçalves !
Neste novo mandato, tomou algumas atitudes como promover uma assembléia extraordinária que julgaria o então diretor de regatas por atentado à moralidade ( o rapaz estaria em uma dos barcos do Vasco, na companhia de algumas garotas ), oferece um dos barcos de sua propriedade ao próprio Club ( a Baleeira Volúvel ), além de promover a modernização da nossa sede trocando as instalações que eram a querosene por iluminação a gás !
Mas eis que o destino reserva uma surpresa para o Vasco mais uma vez: No dia 05-03-1902, o primeiro presidente da nossa história sofria um Aneurisma e falecia, em pleno mandato, em pleno exercício da função, comovendo a instituição que ele presidiu e parando-a totalmente por 3 dias ( nem os barcos foram à água como forma de demonstrar o luto ), e como forma de homenageá-lo, durante a Assembléia que decidiria os rumos da Nau Vascaína para o ano seguinte, foi proposta e aceita que Francisco Gonçalves do Couto Júnior fosse agraciado com o título de sócio extra número um.
Logo depois de sua morte, as empresas de Francisco, principalmente a Serraria a Vapor, entrariam em falência, se encerrando a história do nosso primeiro presidente, mas não a do Vasco que seguiu em frente, o que quase ocorreu com a sua atitude de nos abandonar, mas que revela além da grandiosidade dos nossos homens ( o seu retorno foi fundamental para acalmar e serenar os ânimos ) que o nosso Club, seja qual for a cisão, seja qual for o conflito ou briga, sempre estará de pé, poderá até envergar mas nunca quebrar, e a vida ( e morte ) de Francisco Gonçalves do Couto Júnior enquanto nosso mandatário é a prova irrefutável disso.

Saudações vascaínas !

Rafael De Nadai Bacchi


Fonte: Vasco da Gama Histórico
Fonte: Almanak Industrial
Fonte: Cidade do Rio
Facebook: https://www.facebook.com/agloriadovasco?ref=hl

sábado, 6 de setembro de 2014

Antônio de Almeida Pinho - Para nosso maior mecenas, um estádio inteiro em honra e Glória !


Antônio de Almeida Pinho
Amigos,
O gigantismo do Vasco, o colosso que ele é hoje, se deve principalmente ao fato de que homens acreditaram e se empenharam no seu engrandecimento quando ele, nosso Club, ainda era pequeno, ainda dava os primeiros passos rumo à eternidade e assim, levaria com ele os mesmos que o impulsionariam.
Como símbolo maior desse “acreditar” destacamos o nosso estádio, nosso monumento de amor e de concreto que é o nosso estádio Vasco da Gama, conhecido popularmente como São Januário, e sendo assim, como contribuinte maior e individual desse esforço destacamos o maior dos nossos mecenas, o grande responsável pelo que chamamos hoje de caldeirão existir: Antônio de Almeida Pinho!
Nascido no dia 04-02 na cidade portuguesa de Macieira de Cambra, se destacou imensamente no Brasil como comerciante de minérios, mais especificamente o ferro, tendo sido proprietário de grandes jazidas no estado de Minas Gerais, além de ter feito parte da diretoria da “Câmara Portugueza de Commércio e Indústria”, além de grande filantropo tendo atuação destacada em benefícios destinados a Beneficência Portuguesa além de contribuições para sua própria cidade, Macieira, o que levou o governo de Portugal a lhe conceder a ordem de Christo na categoria de Comendador, sendo que após seu falecimento, recebeu o diploma de Grande oficial da Ordem da Benemerência, também do governo português.
Foi sob a sua direção como presidente, em 1921, que o Vasco obteve seu primeiro título no futebol, o campeonato que correspondia à terceira divisão estadual e que abriria as portas para a conquista da série B em 1922 e para o glorioso campeonato de 1923, além de ter sido um dos fundadores da Escola de instrução militar de número 307 que contribuiu imensamente com o esforço de guerra do Brasil durante as batalhas em solo europeu, durante o segundo grande conflito mundial.
Mas foi na chamada “campanha dos 10.000”, a grande empreitada necessária para a construção de nosso estádio, que a figura desse grande vascaíno se destacou imensamente, e colocou seu nome para sempre na nossa história: Aliado às milhares de contribuições anônimas de vascaínos desejosos de que o Club tivesse a sua praça de esportes, empenhou seu imenso patrimônio em dois vultuosos empréstimos, patrimônio esse que serviu de garantia para que o Vasco obtivesse essas duas somas, necessárias para primeiramente adquirir o terreno na chamada Chacrinha de São Januário e para logo após a compra do local, levantar propriamente dito o nosso estádio, sendo feito então dessa forma.
Como avalista e pondo seu patrimônio como garantia, Antônio foi responsável por cerca de 60% do total do volume final necessário para que o nosso estádio ganhasse vida, isso mesmo, Almeida Pinho empenhou o trabalho de uma vida inteira em pró de outro que durasse muito mais e que fosse irradiado para milhões de apaixonados anos seguintes.

A figura do primeiro grande benemérito da nossa história e presidente honorário Almeida Pinho nos deixou em 30-01-1942, e sua importância para nosso Club pode-se resumir ao fato de que as alças do seu esquife foram seguradas pelo atual presidente do Vasco na época (Cyro Aranha) e todos os ex presidentes que conviveram com ele, vindo a família numa espécie de segunda turma e os diretores do Vasco em uma terceira.

Hoje, na entrada do colosso que, com o empenho do seu patrimônio pessoal e do seu esforço ajudou a construir, se encontra seu busto, como se guardasse, ao lado de Raul Campos, a obra que ajudaram a erguer, e mais do que um busto, é o próprio estádio de São Januário que homenageia um dos seus principais responsáveis, em concreto, aço, e na nossa memória para todo o sempre.

Rafael De Nadai Bacchi